Aos 17 anos, jovem baiana desenvolve próteses
dentárias a partir da casca do ovo
Uma criança curiosa, uma
adolescente fascinada pela área de saúde. A paixão pela ciência ganhou
motivação ainda maior quando percebeu que suas ideias poderiam ajudar os menos
favorecidos. A estudante baiana Gabriela Moraes de Santana, 17 anos, produziu
um projeto científico sobre próteses dentárias criadas a partir da substância
da casca do ovo de galinha.
Chamado Pônticos Dentários Confeccionados com Hidroxiapatita Produzida a
Partir da Casca de Ovo da Gallus Gallus Domesticus, o
projeto visa baratear o custo das próteses dentárias e foi desenvolvido no
projeto de Iniciação Científica da Escola
SESI Djalma Pessoa, onde Gabriela cursa o Ensino Médio. “Teve um momento da
minha vida que eu comia muito ovo e, então, parei para pensar ‘não é possível
que o Brasil seja um dos maiores produtores de ovo do mundo e que a gente coma
e descarte tanto as cascas. Será que elas não têm utilidade de fato?’,
questionava-se a estudante que começou a pensar na possibilidade da pesquisa em
casa mesmo.
Professor de Ciências
Biológicas e de Iniciação Científica, Marcelo Barreto foi o orientador de
Gabriela nesta jornada de descobertas. O educador explica o processo de criação
dos projetos científicos. “O aluno vem para a linha de pesquisa e começamos a
trabalhar qual problemática ele vivencia para que a gente consiga, a partir da
sua realidade, ajudá-lo a desenvolver ciência”.
A primeira descoberta: a casca do
ovo de galinha tem substâncias semelhantes ao dente humano. “Quando Gabriela
trouxe algo que ela vivenciava, eu e um professor de química pesquisamos sobre
o assunto e conseguimos fazer a extração da substância da matéria-prima. Porém
tínhamos um problema: ao extrairmos a hidroxoapatita da casca do ovo, ela
ficava parecendo giz, porosa e não conseguíamos fazer que ela tivesse
resistência para ser utilizada na boca”, detalha o professor.
Com a ajuda do corpo docente de Engenharia
de Produção do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec),
professores e aluna conseguiram, ao longo dos últimos dois anos, superar os
desafios que surgiram durante o processo. “Eles sugeriram que fizéssemos um
biopolímero com a hidroxoapatita, misturando o ácido cítrico e outra
substância, para conseguirmos um biopolímero que não derretesse na boca em
contato com o ácido e tivesse uma resistência muito grande. Assim, conseguimos
ter o objeto, a estrutura”, revela Barreto.
A pesquisa rendeu para Gabriela
conhecimentos que extrapolam a sala de aula e o primeiro lugar no Prêmio Jovem Cientistas
2019, realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além da participação
entre as finalistas na 18ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).
“Quando você vai para a Feira, seja como ouvinte ou como participante, é lindo
porque você vê que o jovem é capaz de fazer ciência e, muitas vezes, a gente
duvida do nosso potencial por sermos novos demais. Eu via projetos incríveis de
pessoas que estavam ali fazendo acontecer, projetos que vêm para agregar e
trazer um impacto muito grande na vida das pessoas. Eu sou extremamente grata por
ter participado e estar participando até hoje”.
O professor
Marcelo Barreto ressalta a importância de que alunos do Ensino Médio tenham
acesso à ciência através das instituições de ensino. “Eu era aquele aluno que
não era nem muito bom nem muito ruim. Quando me formei professor, queria
atingir todos os estudantes, os que precisavam de uma didática diferenciada,
como por exemplo a pesquisa, a ciência. Quando vejo um aluno meu saindo da
escola com a experiência que eu só tive na universidade, com bagagem, fico
feliz demais”.
Com uma bagagem para lá de
diferenciada, a estudante Gabriela de Moraes Santana já tem planos definidos:
ingressar no curso de Biomedicina
e conseguir aprofundar seu projeto de pesquisa na faculdade. Ao olhar para
trás, ela hoje tem uma certeza ainda maior do que quer para o futuro: “aquela
menina que brincava com os produtos de limpeza de casa está conseguindo”,
vibra.
O desperdício de uma inusitada
matéria-prima de um lado, o sorriso banguela no rosto de tantos brasileiros na
outra ponta. De acordo com a pesquisa “Percepções
latino-americanas sobre perda de dentes e autoconfiança”, realizada pela
Edelman Insights, cerca de 16 milhões de pessoas vivem sem um dente sequer no
país. Na faixa etária acima dos 60 anos, 41,5% dos brasileiros já perderam
todos os dentes. “É um problema que compromete a saúde fisiológica e autoestima
das pessoas. Então, é um problema que afeta a qualidade de vida”, resume com
orgulho a jovem cientista.
Fonte: Larissa Mesquita – Agência Educa Mais Brasil